8 de abril de 2011

Carta a um amigo que não é visto há muito tempo - Parte I


Querido amigo,
Antes de tudo gostaria de perguntar como estão as coisas aí na sua cidade. Faz muito tempo que nós não nos falamos, e já faz também muito tempo que eu não o vejo. Ah, e não se assuste com a carta. Existem coisas que precisam de alguma pessoalidade e eu realmente não a enxergo através da tão maravilhosa internet. Bem, mas deixemos essas divagações para depois, não? Só não ouse se esquecer de mandar-me notícias!
De fato, eu ainda duvido muito que conseguiria colocar essa carta no correio – mas prometo que, se assim o fizer, ela estará acompanhada por um selo muito legal, perfeito pra sua coleção (você ainda se diverte com a filatelia, certo?). OK, me perdoe a enrolação, eu tenho certeza que uma pessoa que me conhece tão bem quanto você sabe muito bem que só falo tanto assim quando algo está me deixando nervosa. Mas como isso é uma carta – e nada me obriga a coloca-la no correio, pela graça de Deus – eu direi de cara.
Eu sinto sua falta. Mais do que eu pensei que sentiria. E antes que algum babaca que, por engano, pegou essa carta sem conhecer seu contexto completo, comece a espalhar que eu estou apaixonada por você, eu gostaria de pedir que esse babaca fosse cuidar da própria vida. Nunca foi preciso me explicar aos outros. E você, meu amigo, entende o que eu digo.
Eu ainda me lembro muito bem do dia em que nós nos conhecemos. Eu era uma daquelas pessoas complicadíssimas que raramente atraíam a simpatia instantânea das pessoas (e sejamos sinceros, ainda estou lutando muito contra isso, não?). Já você, pouco ou nada mudou. Ainda é uma pessoa amorosa, sincera, consideravelmente feliz e muito paciente porque, verdade seja dita, aturar-me nunca foi algo muito fácil.
Mas nós sobrevivemos, isso mesmo, nós sobrevivemos. Seis anos – ou foi menos? Pior: será que foi mais? E eu ainda arrisco dizer que, seja dois, seis ou onze, não foi suficiente. É, não foi suficiente. Eu ainda me lembro de tantas coisas, incontáveis coisas, mas como eu queria que pudesse ter sido pra sempre. E o pior de tudo, eu me arrependo de nunca ter feito nada para realmente mostrar como eu me importava. Para demonstrar o que eu sentia, muito além das palavras constantes que saíam da minha boca, minha boca incalável.
Mas existe uma coisa só da qual eu não me arrependo.

1 de abril de 2011

No primeiro dia de Abril



A: É mentira.
B: É verdade.
A: Mentira.
B: Verdade.
A: Mentira.
B: Verdade.
A: Verdade.
B: Boa tentativa, mas isso só funciona em desenhos animados. Eu não vou mudar minha opinião.
A: Deveria. Isso é uma alienação ainda maior do que na Idade Média.
B: Por quê?
A: Por que hoje você tem acesso a informações, conhecimento, realidade. Será que eu preciso te explicar isso de novo? Eu achava que você era mais sábia.
B: Você tem uma mente muito pequena. Eu sou aberta a tudo. Você se restringe a uma única situação.
A: Uma situação verdadeira, ora.
B: Deixe-me te contar algo. Verdades não mudam. Verdades não surgem ou deixam de existir simplesmente. Elas são eternas. Mesmo antes de serem apresentadas, já são sentidas.
A: Claro que as verdades mudam, você não vê as Teorias sendo derrubadas diariamente?
B: Exatamente, Teorias. Não verdades.
A: Você me deixa confusa.
B: A verdade liberta. Você entendeu tudo errado.
A: [Pausa] Por que nós começamos com esse assunto mesmo?
B: Por que hoje é Primeiro de Abril.
A: Ah, é mesmo. [Pausa]. Discutir me cansa.
B: Você... Quer ir ao shopping?
A: Tá, pode ser. Sem ressentimentos?
B: Vamos depressa.

[Imagem: Capa do livro "Raiz-forte: verdades amargas que você não pode evitar", Lemony Snicket]